O Caminho Milenar de Peabirú

De São Vicente a Machu Picchu Passando por Paranapiacaba

O Caminho do Peabiru, Trilha dos Tupiniquins, Trilha dos Goianases ou Caminho de Piaçagüera – Paranapiacaba / Vila de São Paulo de Piratininga

      Registros históricos datados a partir de 1528 dão conta de uma trilha milenar que saia da Capitania de São Vicente no litoral do Atlântico em direção a Cuzco e Machu Picchu no Perú e de lá chegando a Arequipa no litoral do Oceano Pacífico, atravessando 4 países: Brasil, Paraguai, Bolívia e Perú, com uma distância total de aproximadamente 5.000 km, dos quais 1.200 km em território brasileiro.



      Uma das hipóteses mais aceitas pelos historiadores sobre a construção de Peabiru supõe que o caminho tenha sido uma tentativa de expansão do império Inca, ou alguma civilização pré-Incaica, em direção do oceano Atlântico. Neste caso, a expressão original "Pe Biru" significaria algo como "Caminho para o Biru", nome pelo qual os incas denominavam seu território.

      Outra hipótese aponta na direção dos Guaranis, ou povos antecessores, como os Itararés, na construção do Peabiru, entre os anos 1000 e 1300. O termo, então, poderia ser interpretado como "Caminho para a Terra sem Mal", e estas tribos, originárias do território onde fica o Paraguai, teriam construído o Peabiru durante sua migração para o litoral sul do Brasil, em busca de um paraíso, a lendária "Terra sem Mal".

      Ainda hoje, muitos consideram os resquícios do Peabiru como um caminho sagrado, próprio para peregrinações pelo interior do Brasil, a partir de vários pontos do litoral, principalmente Santa Catarina, Paraná e São Paulo. O Peabiru, cujo significado mais conhecido é Caminho de Grama Amassada, foi quase todo destruído pela paulatina ocupação humana, restando ainda poucos vestígios.



       O trânsito intenso através do Peabiru chegou a ser proibido, em 1553, por Tomé de Souza. Segundo o, então, Governador-Geral do Brasil, era preciso fechar o caminho milenar e punir quem por ali transitasse com a pena de morte, pois "a fácil comunicação entre a Vila de São Vicente com as colônias castelhanas causam um grande prejuízo à Alfândega Brasileira, resultado do contrabando".

     Só muito tempo depois, algumas dessas trilhas foram aos poucos sendo reativadas. Provavelmente é o caso do chamado Caminho Velho, que teria usado uma das antigas ramificações do Peabiru para ligar Paraty, no litoral sul do Rio de Janeiro, às Minas Gerais. Com a descoberta de pedras e metais preciosos naquela região do interior do Brasil, o Caminho Velho foi calçado com pedras e passou a ser conhecido como Trilha do Ouro.

       Hoje, boa parte da Trilha do Ouro pode ser desfrutada em passeios turísticos a partir da cidade histórica de Paraty, no litoral sul do Rio de Janeiro. .

       Percorrendo as margens do Rio Mogi chegava-se em Paranapiacaba de onde se alcançava o Planalto de Piratininga. Os Tupis referiam-se a ela como "Peabirú", cuja tradução mais conhecida é "Caminho de Gramas Amassadas", o místico caminho indígena que ligava o Oceano Atlântico ao Pacífico. Teria recebido esse nome, porque seus construtores plantavam uma espécie de grama rasteira e densa para que a trilha não fosse apagada, pois onde era plantado esse tipo de grama não nascia nenhum outro tipo de vegetação.


Com texto em latim, este mapa da Capitania de São Vicente e Adjacências - 1553-1597 destaca as tribos indígenas da região - Carijós ao Sul, Tupinaquis de Cananéia a São Vicente, Muiramomis na região de Bertioga, Tamoios ao Nordeste e os caminhos dos Goianases e do padre Anchieta entre São Vicente e São Paulo de Piratininga.




Ao longo dos séculos muitos foram os nomes atribuídos a este caminho: Trilha dos Tupiniquins, dos Goianases, Caminho de Piaçagüera e mais recentemente Trilha do Rio Mogi e Trilha da Raiz da Serra. As referências históricas indicam esta trilha como praticamente a primeira trilha ou caminho utilizado pelos europeus em São Paulo e por muito tempo o único meio de ligação entre o litoral e o altiplano paulista. Cartas jesuítas diziam que para se vencer "A Muralha" (apelido dado à Serra de Paranapiacaba) levavam-se dois dias subindo e para descer, um dia. Segundo o historiador Eduardo Bueno em seu livro Capitães do Brasil, a trilha tinha início em São Vicente (Tumiaru, para os índios), de onde se saía em embarcações por um "lagamar de águas salobras" chamado de Morpion. Através dos rios, aportava-se no ancoradouro de Piaçagüera de Baixo, seguindo por uma área alagada em que atualmente se localiza a cidade de Cubatão, até a Piaçagüera de Cima, na raiz da Serra de Paranapiacaba. O trajeto seguia então pelo Rio Quilombo até o Vale do Rio Mogi prosseguindo pela Trilha dos Tupiniquins serra acima.



A Trilha dos Tupiniquins (mais tarde chamada de Trilha dos Goianases e Caminho de Piaçagüera) passava pelo território dos Tamoios, inimigos dos Tupiniquins e dos portugueses, o que veio a torná-la muito perigosa. Em virtude disso, em 1560 seria aberta pelo padre Anchieta uma nova trilha na serra. Mesmo assim essa via consistiu numa das principais ligações da vila de São Paulo de Piratininga com a Ilha de São Vicente durante o período colonial.


               A Trilha dos Tupiniquins e o Caminho do Padre Anchieta Fonte: Livro
                                     Capitães do Brasil de Eduardo Bueno.


       Por ela passaram Martim Affonso de Souza, João Ramalho, Tibiriçá, Piquerobi, Manoel da Nóbrega, José de Anchieta, Manuel de Paiva, e outros nomes da nossa história colonial. Séculos mais tarde foram os ingleses que a utilizaram para construir a primeira ferrovia de São Paulo. Hoje o Parque Estadual da Serra do Mar protege apenas um pequeno trecho da trilha original de mais de 500 anos, pois muito foi perdido devido à construção da ferrovia a partir de 1867.


Características da trilha hoje


      É considerada a trilha mais longa de Paranapiacaba, com média de 8 horas de caminhada até Cubatão. São 800 metros de desnível a serem vencidos em uma trilha com aproximadamente 12 km de percurso. Trechos de descidas íngremes e escorregadias, travessia de riachos, caminhada por dentro de leito pedregoso de rio e por estrada de terra.


Localização e acesso


      Paranapiacaba está localizada na Região Sudeste do Município de Santo André, no limite entre o planalto paulista e a Serra do Mar, a cerca de 48 km de São Paulo. A travessia é feita em três fases. O primeiro trecho é uma descida acentuada com cerca de 3 km por trilha na Mata Atlântica entrecortada por diversos riachos e com muita lama. O segundo trecho com cerca de 5 km é feito pelo leito pedregoso do Rio Mogi, com pequenas quedas e diversas piscinas naturais de águas cristalinas ao longo do caminho.

      O terceiro trecho de 3 Km é por uma estrada de terra e cascalho que liga a antiga estação Raiz da Serra até a portaria da COSIPA – Companhia Siderúrgica Paulista.

      Um caminho histórico fascinante, emoldurado pela exuberância da Mata Atlântica.


Como ir

      Agende essa trilha com um guia credenciado na AMA - Associação dos Monitores Ambientais de Paranapiacaba: (11) 4439 0155

      Valor da diária do guia: Entre R$ 20,00 e R$ 25,00 por pessoa.



Bibliografia:

História do Caminho de Peabiru – Riosana Bend
Capitães do Brasil – Eduardo Bueno
Peabiru uma aventura quinhentista – Marcos Cruz Alves

www.mochileiros.com

www.brasilazul.com.br